29.1.15

Só por hoje

Só por hoje, deixa-me ser frágil. Deixa que qualquer toque me derrube e que qualquer brisa me estremeça sem que eu tenha de ser estrutura e obstáculo. Só por hoje, deixa-me não ser crescida. Deixa-me ter medo do escuro, ver fantasmas em todas as sombras, acreditar em bruxas, ver monstros nas esquinas. Só por hoje, deixa-me esconder a cabeça debaixo das almofadas, deixa-me ser bicho-de-conta e também porco-espinho. Só por hoje, deixa-me não precisar da força do pensamento, deixa-me ser mais animal e menos gente. Só por hoje, deixa-me não ter de ser forte, deixa-me não ter de pensar em tudo, deixa-me não ter de pensar em todos, deixa-me ficar só no teu colo, sentir a curva dele onde me ajusto e onde diminuem todos os meus receios. Só por hoje, faz da força dos teus braços ramos em torno do meu casulo. Só por hoje, não digas nada. Melhor, só por hoje, diz com a tua voz serena e firme vai ficar tudo bem. Só por hoje. Só por hoje. Só por hoje, deixa-me ser pequenina.