15.9.13

A Essência e a Cidade

Há muito que eu e tu, Cidade, temos uma relação em rotura. São raros os dias em que namoramos, em que nos encantamos, em que nos seduzimos e em que temos momentos cúmplices. Andamos de costas voltadas e por tudo e por nada há amuos. Por vezes encontramo-nos numa esquina mais resguardada onde se faz silêncio por breves instantes, numa fachada de um edifício antigo por onde se cruza o sol, numa esplanada com vista para o rio, e aconchegamo-nos uma na outra, num gesto que nos reconcilia. Sol de pouca dura. Cada vez andamos mais desencontradas e o ritmo que te alucina e alicia, em mim causa claustrofobia. Desencantámo-nos uma da outra e a pacifica coexistência é feita, para ambas, em linha reta com o pensamento um dia atrás do outro.

Dou por mim de olhar preso na cortina. Dança ao sabor do vento quente, que entra sem cerimónia pelo quarto, coado pelo seu leve pano branco. O seu gesto lânguido, prenho de tempo, transporta-me para a paz de outros ritos e ritmos que te são distantes e desconhecidos. Leva-me para os dias leves do campo, para a doçura de uma planicie onde o burburinho exterior é feito da conversa dos pássaros, da música dos insetos, da melodia do vento entre as folhas, de um fio de água que corre para um tanque, ou do ressoar longínquo de vozes simples. De risos felizes.

Depois há o silêncio, aquele que recrio, aquele que me resguarda de ti, Cidade de que me desencontro, e que me faz caminhar a passos largos por entre as horas dos dias, para regressar depressa ao meu ponto de refúgio. Ao meu porto de abrigo.

Não gosto de ti Cidade e há muito que não te o escondo. Vale-te a sorte de te habitarem os que amo e me ancoram à tua estranha forma de vida. Estás longe de mim, da minha Essência. Bem sabes, Tu que és tão vivida, sem a identidade que gera a cumplicidade, não há Amor que sobreviva.


3.9.13

Chamo-lhes um figo!


Um dos frutos preferidos, desde a infância.
Estes, vindos diretamente da figueira do pai, são dignos do rótulo da moda: Produto biológico. 
Da figueira vem o fruto, da chuva o calibre e do sol a doçura. Aditivos?... Para quê?